quinta-feira, 1 de março de 2012

Bactérias do bem


Elas ganharam péssima fama por serem especialistas em causar doenças e produzir toxinas. Mas a utilização de bactérias em situações para lá de inusitadas — e benéficas — passou a ocupar a cabeça dos cientistas da área de biotecnologia. Eles já descobriram que algumas delas conseguem conduzir eletricidade, enquanto outras servem como proteção contra altas doses de radiação. Muitas ajudam a dar sabor a alimentos e, no futuro, haverá aquelas capazes de encarar uma faxina em roupas autolimpantes. Estudos dentro desse campo devem ganhar força nos próximos anos.

O potencial desses micro-organismos ainda está sendo descoberto, e o mercado de tecnologias baseadas em bactérias tem crescido. “Tradicionalmente, a biotecnologia foca o setor de saúde, mas essa visão está se diversificando”, diz Tim Hart, gerente de desenvolvimento de negócios da Isis Enterprise, parte da Isis Innovation, uma companhia de transferência de tecnologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Segundo ele, as bactérias podem ser utilizadas em atividades ambientais, industriais e inclusive em sensores biológicos em nanoescala.

Para Hart, o desenvolvimento de alimentos funcionais (que supostamente fazem bem à saúde) e probióticos (que introduzem seres vivos benéficos no organismo humano) está avançando. “Estamos muito próximos de chegar ao mercado de consumo de larga escala.”

Um dos exemplos é o lactobacilo. No começo do ano, Jeremy Nicholson e sua equipe do Imperial College, em Londres, deram um tipo de lactobacilo a ratos cujos micróbios intestinais haviam sido substituídos pelos que vivem nos intestinos humanos. Os pesquisadores descobriram que os lactobacilos alteraram a composição da bile, aumentando a proporção de enzimas que reduzem a quantidade de gordura absorvida pelo corpo. Acrescentar essas bactérias aos alimentos pode, um dia, ajudar na cura da obesidade.

 
De biocombustíveis a cosméticos
Devido ao enorme potencial da aplicação de bactérias em diferentes áreas, grandes empresas estão dispostas a unir forças com biocientistas. Uma das instituições que nasceram dessa colaboração é o Centro de Excelência para Biocatálise, Biotransformações e Manufatura Biocatalítica (CoEBio3) da Universidade de Manchester. A entidade foi criada para estimular pesquisas sobre processos de biocatalização (uso de micro-organismos para acelerar reações químicas) para a indústria.

“Estamos trabalhando junto com empresas como a AstraZeneca, a Pfi zer, a Basf e a Shell para criar bactérias que produzam certos produtos químicos”, afirma Nicholas Turner, diretor do CoEBio3. Uma das mais promissoras subáreas dessa ciência é a de biocombustíveis, na qual bactérias são usadas para converter biomassa em bioetanol e biodiesel de altíssima qualidade em larga escala. “Mas também trabalhamos no desenvolvimento de cosméticos, sabores e fragrâncias”, diz.

Mesmo para os pesquisadores que preferem ficar nas universidades, não faltam ofertas de financiamento. No Reino Unido, parte dos recursos vem do Conselho de Pesquisa de Biotecnologia e Biociências (BBSRC). A entidade criou o Clube da Indústria de Pesquisas em Bioprocessamento (Bric), uma parceria de 14 milhões de libras entre a entidade, o Conselho de Pesquisas de Engenharia e Ciências Físicas (EPSRC) e um consórcio de empresas que inclui nomes como a Pall Life Sciences e a GlaxoSmithKline. O objetivo é patrocinar estudos inovadores de biotecnologia em várias universidades.

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